Assassinato do número 1 do Hamas abre oportunidades e gera incertezas para a guerra em Gaza
Morte pode determinar como o restante do conflito será travado ou até mesmo levar ao seu término. Líderes do grupo terrorista já se mostraram substituíveis no passado. Yahya Sinwar em mesquita em Rafah em 24 de fevereiro de 2017.
Said Khatib/AFP
A morte de Yahya Sinwar, principal líder do Hamas e idealizador do ataque terrorista do grupo em 7 de outubro, é um ponto de virada dramático na brutal guerra na Faixa de Gaza, travada entre o grupo e o Exército de Israel, que completou um ano recentemente.
O anúncio da morte de Sinwar nesta quinta-feira (17) desmantela o grupo militante palestino que já vinha sofrendo com meses de assassinatos em sua liderança. E é uma conquista simbólica poderosa para Israel em sua batalha para destruir o Hamas.
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O assassinato, ocorrido apenas 10 dias depois que israelenses e palestinos marcaram um ano desde o início dos combates mais mortais em seu conflito de décadas, pode determinar como o restante da guerra será travado, ou até mesmo levar ao seu término — dependendo de como Israel e o Hamas decidirem seguir em frente.
Nesta reportagem você vai ver:
Morte de Sinwar pode servir para Israel encerrar a guerra
Morte de Sinwar pode ter implicações mais amplas, dependendo dos próximos passos de Israel
Outros membros do alto escalão do Hamas podem ser mais flexíveis
Líderes do Hamas já se mostraram substituíveis no passado
Morte de Sinwar pode servir para Israel encerrar a guerra
Sinwar, que foi nomeado líder do Hamas após a morte de seu antecessor, Ismail Hanyeh, em um bombardeio no final de julho em Teerã, no Irã, atribuído a Israel, passou anos fortalecendo o poder militar do Hamas e acredita-se que tenha sido o principal responsável pelo ataque de 7 de outubro de 2023.
Após esse ataque, em que militantes liderados pelo Hamas mataram cerca de 1,2 mil pessoas e sequestraram outras cerca de 250, Israel prometeu destruir o Hamas e matar todos os seus líderes.
Com Sinwar no topo dessa lista de procurados, sua morte é uma grande conquista para Israel. Analistas dizem que a morte de Sinwar apresentou a Israel, que vinha lutando para definir uma estratégia de saída de Gaza, uma oportunidade para encerrar a guerra.
“Isso seria realmente a cereja no topo do bolo para Israel”, disse Nomi Bar-Yaacov, pesquisadora associada do Programa de Segurança Internacional do think tank Chatham House, em Londres. “Deveria ser mais fácil chegar a um acordo”, afirmou.
Com o arquiteto dos ataques de 7 de outubro eliminado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu agora poderia dizer aos israelenses que um dos objetivos da guerra foi alcançado.
Politicamente, isso poderia permitir que ele fosse mais flexível em um acordo de cessar-fogo que encerraria a guerra em troca de reféns — uma condição que ele até agora se recusou a aceitar, em parte, dizem os críticos, porque isso poderia ameaçar seu governo.
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Morte de Sinwar pode ter implicações mais amplas, dependendo dos próximos passos de Israel
Analistas disseram que a conquista foi um divisor de águas tão grande que é uma oportunidade para Israel sinalizar que está pronta para encerrar os combates em outras regiões, incluindo no Líbano, onde Israel está lutando contra o Hezbollah.
“A oportunidade de encerrar a guerra totalmente, assim como no Líbano, está inteiramente em nossas mãos”, disse Giora Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, ao Canal 12 de Israel, dizendo que Israel deve usar a morte de Yahya Sinwar para apresentar suas condições para encerrar as guerras em ambas as frentes.
As famílias dos reféns em Gaza tinham uma mensagem semelhante para Netanyahu. Um grupo que representa as famílias saudou a morte de Sinwar, mas, reconhecendo a oportunidade potencial, pediu a Israel que reconcentre seus esforços em negociar um acordo.
“Netanyahu, não enterre os reféns. Vá agora até os negociadores e o público israelense e apresente uma nova iniciativa israelense”, disse Einav Zangauker, cujo filho Matan está detido em Gaza, em uma postagem nas redes sociais.
Khaled Elgindy, pesquisador sênior do grupo Middle East Institute, com sede em Washington, nos EUA, alertou que Netanyahu mostrou poucos sinais de que está buscando um fim para o conflito, com o exército intensificando suas operações no norte de Gaza nas últimas semanas.
“A guerra ainda não acabou”, disse Netanyahu em uma declaração em vídeo após o assassinato.
Netanyahu governa com o apoio de dois partidos de extrema-direita que ameaçaram derrubar o governo se a guerra terminar com um acordo de cessar-fogo. Eles repetiram sua oposição a um acordo após a morte de Sinwar. Os partidos também são apoiadores do estabelecimento de assentamentos israelenses na Faixa de Gaza, algo que o líder israelense já descartou publicamente.
Netanyahu, que está sendo julgado por acusações de corrupção, também viu sua sorte política melhorar ao longo da guerra, após ter despencado após o ataque do Hamas no ano passado. Prolongar a guerra permite que ele desfrute de aumentos de apoio após cada sucesso que obtém.
Vídeo mostra Yahya Sinwar momentos antes da morte
Outros membros do alto escalão do Hamas podem ser mais flexíveis
Sinwar era visto como um linha-dura com laços estreitos com o braço armado do Hamas e, durante repetidas negociações de cessar-fogo com Israel, era visto como quem dava a palavra final sobre qualquer acordo para Gaza e a libertação de dezenas de reféns israelenses.
As posições de Sinwar estavam diretamente em desacordo com as de Israel. Ele insistia na libertação de centenas de prisioneiros palestinos, na retirada total das forças israelenses de Gaza e em um cessar-fogo duradouro — mesmo com mais de 42 mil palestinos mortos na guerra em andamento, segundo autoridades locais, e grande parte do território em ruínas.
Segundo Elgindy, a morte de Sinwar provavelmente dará mais flexibilidade e controle à liderança política do grupo no Catar. Isso inclui Khalil al-Hayya e Khaled Mashaal, principais delegados do Hamas nas longas negociações.
Esses líderes podem ser mais receptivos à pressão do Catar, um mediador importante que abriga alguns dos principais líderes do Hamas. Ao contrário de Sinwar, esses líderes também não estão escondidos em Gaza, o que poderia acelerar o progresso em um acordo.
Líderes do Hamas já se mostraram substituíveis no passado
Para o Hamas, a morte de Sinwar deixa um vazio na liderança do grupo militante, com seu futuro incerto em Gaza. É um golpe simbólico para um grupo já abalado por múltiplos assassinatos de seus líderes.
Um ataque aéreo israelense matou Marwan Issa, vice-líder da ala militar do Hamas, em março. Ismail Haniyeh, ex-líder político do Hamas, foi assassinado em uma explosão em Teerã em julho, atribuída a Israel.
Em agosto, Israel afirmou ter matado Mohammed Deif, chefe militar do Hamas e co-mentor do ataque de 7 de outubro, em um ataque aéreo. O Hamas não confirmou essa morte.
Elgindy chamou a morte de Sinwar de um “grande golpe” para o Hamas. No entanto, ele acrescentou que “não foi fatal, pois todos são substituíveis.” Ainda assim, com tantos líderes e comandantes mortos, neste momento, não está claro quem poderia assumir seu lugar.