‘Desafio da cadeira’: por que mulheres geralmente conseguem fazê-lo, e homens, não?
Vídeos que viralizaram nas redes sociais mostram o seguinte experimento: uma pessoa encosta a cabeça na parede, tomando certa distância, levanta uma cadeira até a altura do peito e tenta erguer o tronco. Nos posts, nem os homens mais ‘fitness’ conseguem cumprir a missão. As mulheres, por outro lado, parecem não precisar de muito esforço. O mistério tem realmente a ver com gênero? Entenda. ‘Desafio da cadeira’: por que mulheres geralmente conseguem fazê-lo, e homens, não?
🪑Sabemos que, depois de ler este texto, você vai encostar a cabeça na parede e tentar erguer uma cadeira. Pode acreditar. Mas vamos lá.
Um desafio que viralizou no TikTok e no Instagram (veja o vídeo acima) mostra um experimento que, quando executado por mulheres, parece extremamente simples. Mas, quando homens tentam fazê-lo, saem decepcionados com o próprio desempenho, achando que precisam se esforçar mais na academia. Calma, gente, a explicação está na física.
A missão é a seguinte:
A pessoa fica a três “pés” de distância da parede, próxima a uma cadeira.
Encosta a cabeça na parede e levanta a cadeira até a altura do peito.
Em seguida, tenta erguer o tronco e a cadeira, voltando o corpo para a posição vertical.
No caso da maioria dos homens que aparecem nos vídeos, eles sequer conseguem mover a cabeça nessa posição — ficam “empacados”. Por quê? A resposta gira em torno do conceito de “centro de massa”.
🔴O que é centro de massa?
Definição: É o ponto hipotético onde a massa de um corpo fica concentrada.
📏Pense em uma régua. Se você equilibrá-la com a ponta do dedo, precisará encostar bem no meio da superfície, para que ela não caia. Isso significa que o centro de massa do item está no centro.
Centro de massa da régua
Arte/g1
🏏Mas, pensando em formatos que não são uniformes, como um taco de baseball ou uma garrafa PET, o resultado será diferente, porque a distribuição de massa varia (a tampinha, por exemplo, já deixa uma das extremidades mais “pesada”).
Se você amarrar um barbante bem no meio do taco, o objeto vai ficar em desequilíbrio (veja infográfico abaixo). Mas, caso prenda perto da parte mais grossa (a que bate na bola), ele ficará na horizontal. Conclusão: o centro de massa do taco está deslocado para o lado que é mais… “massudo”, digamos assim.
No taco de baseball, o centro de massa está deslocado para o lado mais pesado
Arte/g1
“Quando seguro o taco pela parte fina, como os atletas, e tento girá-lo, preciso fazer mais força, porque vou mover o pedaço que tem mais massa. Se eu segurar pela parte grossa, é a fina que vai precisar ‘ser girada’: mais leve e mais fácil”, explica Wander Azanha, professor de física e diretor do Oficina do Estudante.
O que isso tem a ver com o desafio da cadeira? Você entenderá a seguir.
🙅♂️Por que homens têm mais dificuldade?
“O que ocorre nos vídeos não está diretamente relacionado à força, mas sim à biomecânica do corpo”, explica Daniel Ávila, professor de Física do Colégio e Curso AZ.
Isso acontece porque os homens, em geral, têm uma concentração maior de massa no tronco; já as mulheres, na região dos quadris.
“O centro de massa deles fica ‘mais para cima’. Por isso, quando projetam o corpo para frente, ele tende a tombar [em direção à parede]”, explica Ávila. “No caso delas, com o centro de massa ‘mais para baixo’, é mais fácil inclinar o tronco e voltá-lo para a posição inicial.”
É o mesmo caso do taco de baseball, mencionado acima: o movimento é mais trabalhoso quando a parte do objeto que tem mais massa é justamente a que precisa ser “girada”.
“Funciona como uma alavanca. O movimento fica mais pesado para os homens, geralmente. Mas não é uma regra”, diz Márcio Guedes, coordenador pedagógico do Poliedro Curso. É bem possível que uma mulher halterofilista, por exemplo, tenha o centro de massa mais “para cima” e não consiga passar pelo desafio.
Entenda a diferença no centro de massa de cada corpo
Arte/g1
🪄Existe um “truque”?
A tendência fisiológica, por causa do centro de massa, é exatamente a mostrada nos vídeos: homens costumam sofrer mais para erguer a cadeira.
Mas há um elemento que pode dar uma forcinha para quem tenta participar da “trend”, mostra Ronaldo Carrilho, professor de física do Curso Anglo (veja a imagem mais abaixo).
“Quando é a vez da moça em um dos vídeos, ela coloca uma parcela do corpo (bumbum, perna e parte da barriga) para trás da linha vertical que passa pelo apoio dos pés”, explica. “Então, o peso da metade do corpo que está pra frente dessa linha tende a girar o corpo dela no sentido anti-horário [ou seja, contrário ao da parede].”
Já os homens desafiados acabam não “empinando” o corpo para trás: eles estão com a metade superior do corpo totalmente à frente da linha dos pés. Ou seja, o peso dessa parte de cima tende a girá-los em direção à parede. Quando tentam desencostar a cabeça, têm dificuldade de se mover, esclarece Carrilho.
Existe mais algum mecanismo aliado ao centro de massa?
Arte/g1
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