Tentativas de assassinato de Trump traduzem campanha eleitoral degradada e movida por ódio, fake news e guerras culturais

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Candidato republicano escapa de aparente segundo atentado em dois meses, num indício de que a violência política se normalizou no país. Donald Trump durante debate presidencial da ABC News, em 10 de setembro de 2024
Jacquelyn Martin/AP
A segunda aparente tentativa assassinato contra Donald Trump em dois meses revela muito sobre o estado da campanha presidencial nos EUA, movida por ódio, guerras culturais, disseminação de fake news e, como consequência, pela violência armada.
No debate com Kamala Harris, o ex-presidente revelou acreditar que tomou um tiro na cabeça, em julho passado, na Pensilvânia, por causa de coisas que dizem sobre ele — uma delas a de que é uma ameaça à democracia.
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Mas o candidato republicano e seus aliados são assertivos nas sandices que costumam alardear para atacar os adversários: que em Springfield, Ohio, os imigrantes haitianos matam pets para comê-los; que bebês são mortos no nono mês de gestação; que o governo Biden permitiu a entrada de terroristas, traficantes e criminosos no país para conseguir votos; que, se o republicano perder, os EUA serão arrastados para uma Terceira Guerra Mundial.
Horas antes de ser alvo de uma nova tentativa de assassinato, neste domingo, enquanto jogava golfe, Trump decretou em sua rede social com letras garrafais: “Eu odeio Taylor Smith”, pelo simples fato de a cantora megastar ter apoiado Kamala.
O candidato republicano sequer dá a garantia ao eleitor americano de que respeitará o resultado eleitoral. Sugere apenas que reconhecerá o veredicto das urnas, se for justo. Em outras palavras, conforme a sua conveniência.
Trump vem jogando com o drama e com o medo. Após os tiros ouvidos no domingo a uma distância de menos de 450 metros onde o ex-presidente estava, ele postou que estava bem e não se renderia. Depois, a página de arrecadação de fundos do candidato foi alterada com uma mensagem: “Eu sou Donald J. Trump. NÃO TENHA MEDO! Estou seguro e bem, e ninguém se machucou. Graças a Deus! Mas, há pessoas neste mundo que farão o que for preciso para nos impedir.”
Ainda há muito a ser revelado nas investigações e nos rumos que os campos partidários vão seguir. Mas, diante desse cenário tão volátil e divisivo numa disputa presidencial empatada, duas aparentes tentativas de assassinato do candidato republicano traduzem a degradação de retóricas enraizadas em insultos, racismo e radicalização.
Soa também a insensatez dizer que nos EUA não há lugar para a violência, como fizeram o presidente Biden e a vice-presidente e aspirante à Casa Branca, Kamala Harris, para lamentar e condenar, mais uma vez, o incidente. Este lugar já foi normalizado.
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