Biden reafirma que seguirá candidato a presidência dos EUA após ser pressionado por uma hora por jornalistas

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Em rara coletiva de imprensa nesta quinta (11), Biden reafirmou ser o candidato democrata mais qualificado para ser presidente, confundiu sua vice, Kamala Harris, com Trump e negou que esteja reduzindo agenda para dormir mais cedo, como reportado pela mídia americana. Sobre sua aptidão, Biden também disse que ‘sou testado todos os dias’. ‘Sou o mais qualificado para ser presidente’, diz biden
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reafirmou nesta quinta-feira (11) que é a pessoa mais qualificada para ser presidente e que continuará com sua campanha presidencial, apesar da pressão de aliados por sua desistência nos últimos dias.
Biden apresentou melhor forma durante a coletiva de imprensa desta quinta do que nas últimas aparições públicas. Segundo o comentarista da Globonews Marcelo Lins, Biden foi mais assertivo desta vez. O presidente disse também que “está determinado em concorrer” e quer tirar a impressão de que não estaria preparado para encarar a campanha sem roteiro prévio.
No entanto, em um momento da entrevista, Biden confundiu sua vice-presidente, Kamala Harris, com seu adversário Donald Trump –ele se enrolou e a chamou de “vice-presidente Trump”. Mais cedo, ele havia chamado o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de “presidente Putin”.
A coletiva desta quinta, ocorrida no contexto do encerramento da cúpula da Otan, em Washington, era encarada como uma oportunidade decisiva para Biden tentar provar aos eleitores norte-americanos que é capaz de servir mais quatro anos após seu chocante fracasso no debate contra Donald Trump. Desde o debate, o Partido Democrata está em crise, com políticos e personalidades alternando entre apoio e pedidos por desistência, além das manifestações de jornais americanos sobre Biden.
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Como era esperado, Biden foi perguntado insistentemente na coletiva sobre a possibilidade de desistir da candidatura, mas não deu sinais de que sairá da corrida. O presidente também falou na condição de candidato, dizendo frases como “se eu for eleito”, fazendo promessas de campanha e dizendo que “precisa terminar o trabalho”.
Ao ser questionado sobre os relatos de que está reduzindo sua agenda para ir para a cama mais cedo, Biden disse que “isso não é verdade”. “O que eu disse foi que, em vez de começar todos os dias às 7h e ir para a cama à meia-noite, seria mais inteligente manter um ritmo melhor… é disso que estou falando. Minha agenda está lotada… e no próximo debate, não viajarei 50 fusos horários uma semana antes [como no debate]”, afirmou.
Biden se confunde e chama Kamala Harris de Trump
Biden também foi perguntado sobre possíveis novos exames cognitivos, e disse que é transparente com seus registros médicos e indicou que Trump não fez o mesmo. O presidente também reiterou sua retórica sobre um novo exame, disse que nenhuma autoridade médica pediu a ele um novo exame e “se me disserem que eu precise fazer outro exame cognitivo, eu o farei. Não sou oposto a fazer caso meus doutores o peçam”.
Além da parte cognitiva, Biden recebeu algumas perguntas sobre sua aptidão e capacidade física para ser presidente durante um possível novo mandato de quatro anos e se conseguiria negociar com líderes como o russo Vladimir Putin. “Não há um líder mundial ao qual eu não esteja pronto para falar. Estou pronto para lidar com Putin agora e daqui a 3 anos”.
Biden também foi perguntado sobre uma declaração na campanha de 2020 em que seria uma ponte para a nova geração de jovens, e o que mudou desde então. Na ocasião, o presidente sinalizava que poderia não disputar um segundo mandato –tinha 77 anos. Hoje, aos 81, Biden disse que percebeu “quão duro” é o desafio que ele está tendo que lidar como presidente.

O presidente Joe Biden durante entrevista coletiva, em 11 de julho de 2024
REUTERS/Nathan Howard
Biden também foi perguntado sobre sua gafe ao confundir Zelensky com Putin e um possível declínio mental, mas o presidente riu e desconversou: “Você vê algum dano na minha condução da coletiva? Você vê uma coletiva de mais sucesso que esta?”.
O democrata recebeu diversas perguntas sobre a vice-presidente, Kamala Harris, durante a coletiva. Em uma delas, a repórter perguntou se “a Kamala estaria pronta para ser presidente a partir do primeiro dia de mandato”, e Biden reforçou que acredita em sua companheira de chapa.
Durante a coletiva, Joe Biden também disse que:
Não escolheria Kamala Harris como sua vice-presidente se não soubesse da capacidade dela de ser presidente dos EUA;
Biden desmentiu notícias de que Biden deveria dormir mais: “Isto não é verdade”, e corrigiu ao dizer que precisaria escolher melhor o momento em que realiza suas tarefas como presidente;
“Sou a melhor pessoa para garantir que a Ucrânia tenha sucesso na guerra e que a Otan continue forte”;
“Estou pronto para lidar com Putin agora e daqui a 3 anos”.
Veja abaixo a análise do comentarista político Marcelo Lins sobre a coletiva de Biden:
Biden é mais assertivo em entrevista, analisa Marcelo Lins
Biden começou a coletiva falando da cúpula da Otan e sobre a aliança militar. “O ataque em um integrante da Otan será o ataque em todos nós”. Ele também falou sobre a atuação da Otan no apoio à Ucrânia contra a Rússia, que “Kiev ainda está de pé” por isso.
Biden também atacou Trump ao dizer que ele não se importa com a Otan e não se importa com a ameaça que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, faça na guerra. “Eu acredito que o Artigo 5 [da Constituição] é imprescindível”, disse o presidente. “Não vou abandonar a Ucrânia e vou manter a Otan forte”, afirmou.
Ainda sobre a Otan, o presidente dos EUA disse que seus colegas, líderes dos países-membros da aliança militar, lhe disseram: “você tem que vencer”, porque Trump seria um desastre.
Biden concede coletiva de imprensa decisiva para futuro da candidatura á reeleição
Biden também citou assuntos internos, como a taxa de inflação nos EUA e a fronteira com o México. O presidente também focou nos seus esforços na política internacional, citando a guerra na Faixa de Gaza –entre Israel e o grupo terrorista Hamas– e o progresso nas negociações por um cessar-fogo.
Biden também reafirmou a declaração conjunta da Otan, de que a China está habilitando a Rússia na guerra contra a Ucrânia. “Eles estão fornecendo mecanismos que proporcione os russos conseguirem armas”. O presidente disse que foi também quem mais tempo passou com Xi Jinping, incluindo o tempo em que foi vice-presidente
“A China é um país de um tamanho que acredita que consegue persuadir os europeus a fazer o que ela quer. China tem que entender que se está provendo para a Rússia, junto com Coreia do Norte e outros, então não terão benefícios econômicos por meio de investimentos que querem receber”, disse Biden.
Biden também voltou a reafirmar sua vontade de chegar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. “Temos uma chance agora. Está na hora de acabar com essa guerra.”
Biden mantém candidatura em entrevista coletiva em Washington
REUTERS/Leah Millis
Pouco antes da coletiva, Biden se confundiu e chamou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de Vladimir Putin, o presidente da Rússia. Os dois países estão em guerra desde 2022, quando os russos invadiram o território ucraniano.
Segundo o jornal “The New York Times”, a gafe de Biden ao chamar Zelensky de Putin não poderia ter ocorrido em um pior momento: os canais “ABC”, “CBS” e “NBC” incluíram o clipe em seus noticiários noturnos, que são os programas de notícias mais assistidos do país.
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante discurso de abertura na cúpula da Otan, em 9 de julho de 2024.
Yves Herman/ Reuters
Pressão pós-debate
Biden tentou melhorar seu desempenho desde o debate, mas a entrevista que deu na sequência, na rede de TV ABC, também foi decepcionante. Nada do que ele tentou parece estar resolvendo o problema central, e a cada dia mais deputados e senadores pedem que ele se retire da disputa.
Os eleitores norte-americanos tendem a considerar os seus líderes menos pelo que fazem do que pela forma como os fazem sentir, e o desastre do debate de Biden abalou profundamente o seu partido.
“O debate foi um lembrete de que podemos ter quantas políticas quisermos, mas o que o público vê e ouve pode ser mais importante”, disse Julian Zelizer, historiador com especialidade em presidência dos EUA da Universidade Princeton.
Esse tipo de retórica pode tanto inspirar os cidadãos na sequência de uma tragédia, como o discurso feito por George W. Bush com um megafone sobre os escombros das Torres Gêmeas de Nova York em 2001 quanto ajudar um país cansado da guerra e da recessão a recuperar o seu sentido de identidade, como o “Yes, We Can!” de Barack Obama.
E até mesmo fazer ecoar o famoso grito de Donald Trump “Make America Great Again”.
“As pessoas viam Trump como o reflexo de um país mais turbulento, caótico e furioso”, afirmou Zelizer. “Os eleitores podem ver a fragilidade de Biden como um símbolo de fraqueza ou de seu próprio tipo de instabilidade.”
Apesar dos apelos de alguns membros do seu partido para se afastar, Biden vem insistindo que é o melhor democrata para derrotar Trump, cuja candidatura ele chamou de uma ameaça existencial à democracia.
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