Trocas de farpas na eleição, nenhum contato presencial, desencontro em cúpula do Mercosul: a relação Lula-Milei
Os dois maiores e mais ricos países da América do Sul, Brasil e Argentina, têm dois presidentes cuja relação é estremecida desde o início.
De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, com perfil de esquerda e pautas com tendência progressista e defensor de maior participação do Estado na economia.
Do outro, o presidente Javier Milei, autodenominado anarcocapitalista, ultraliberal e de ideologia com tendência ao conservadorismo de direita.
A interação entre os dois chefes de Estado sempre foi truncada. Por exemplo, os dois nunca se encontraram pessoalmente, o que é exótico, já que Brasil e Argentina são vizinhos e dois países que têm um fluxo comercial muito estreito.
Nos últimos dias, esse assunto ganhou mais destaque. Isso porque Milei desistiu de ir a um encontro de cúpula do Mercosul — do qual Lula vai participar. Em vez disso, Milei preferiu ir a um encontro de políticos conservadores em Camboriú (SC), e lá vai encontrar alguns dos adversários de Lula, como e ex-presidente Jair Bolsonaro.
Relembre abaixo os momentos mais significativos da relação Lula-Milei:
Eleições no Brasil
Durante a corrida eleitoral no Brasil, no segundo semestre de 2022, um ano de Milei ser eleito, ele já opinava contra Lula.
“Não se deixem levar pelo presidiário comunista, votem em Bolsonaro”, afirmou na ocasião.
Eleições na Argentina
Os estranhamentos entre ambos começou no ano passado, durante a eleição presidencial na Argentina.
Lula apoiava o rival de Milei, o então presidente Alberto Fernández. Durante a campanha, Milei chamou Lula de “comunista” e “corrupto” em um programa de TV.
Na ocasião, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, disse que Milei devia desculpas a Lula, o que nunca ocorreu.
Durante a campanha, Milei também ameaçava tirar a Argentina do Mercosul, o que confronta a ideia que Lula tem para o bloco.
Quando Milei finalmente venceu a eleição, Lula parabenizou o povo e as instituições argentinas pela conclusão do processo eleitoral. Mas em nenhum momento parabenizou Milei nem citou o nome do vencedor no dia da conclusão do pleito.
“A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada”, limitou-se a dizer Lula.
Posse de Milei
Milei convidou Lula para sua posse, em dezembro de 2023, e disse que “se Lula vier, será muito bem-vindo”. Mas também chamou Bolsonaro, o que foi visto pelo governo brasileiro como uma deselegância.
Lula não foi à posse e também não mandou o vice-presidente, Geraldo Alckmin. No lugar, decidiu mandar o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Pouco antes, em novembro de 2023, já como presidente eleito, Milei mandou uma carta para Lula. No texto, o argentino afirmou que esperava construir um “trabalho frutífero e de construção de laços” entre Brasil e Argentina.
“Desejo que o tempo em comum como presidentes e chefes de governo seja uma etapa de trabalho frutífero e de construção de laços que consolidem o papel que Argentina e Brasil podem e devem cumprir no acordo das nações”, dizia um trecho da carta.
Nada de conversas presenciais
É exótico na história de Brasil e Argentina os presidentes não se falarem pessoalmente. Aconteceu no mandato passado, com Bolsonaro e Fernández.
Com Lula e Milei, a situação segue. Eles até participaram de um evento internacional em comum. Foi em junho, no encontro de cúpula do G7, que reúne as democracias mais ricas do mundo. Brasil e Argentina estavam como convidados.
Lula e Milei mantiveram distância entre si e não se reuniram pessoalmente, embora tenham reservado espaços na agenda para encontros bilaterais com outros chefes de Estado.